Com apenas três obras no gênero, o compositor russo Pyotr Ilyich Tchaikovsky (1840-1896) reformulou a arte de compor música para ballet. A última delas, O Quebra-Nozes, provou-se uma obra-prima perene e de influência ímpar nas mais diversas expressões artísticas da atualidade.
Após o sucesso do balé A Bela Adormecida, Tchaikovsky dedicou-se a uma nova obra, em mais uma inspiradíssima colaboração com o coreógrafo Marius Petipa, baseada em um conto do alemão E.T.A Hoffmann, O Quebra-Nozes e o Rei dos Ratos, adaptado por Alexandre Dumas pai. A premiére, em 18 de dezembro de 1892, aconteceu no Teatro Mariinsky (que comissionou a partitura), em São Petersburgo, em um programa duplo com a última ópera de Tchaikovsky, Iolanta.
Dividido em dois atos, o libretto de Petipa nos leva de um mundo real, embora onírico, delineado no primeiro, ao mundo feérico do segundo ato, que inclui alguns dos números musicais mais originais e famosos da história do balé, como a Valsa das Flores, a Marcha e a Dança Russa.
A inspirada música de Tchaikovsky respondeu à perfeição às exigências coreográficas de Petipa. Com extraordinários coloridos instrumental e harmônico, a partitura de O Quebra-Nozes forneceu material para diversas suítes que consolidaram o sucesso da obra. Particularmente notável é o uso de instrumentos normalmente não associados à orquestra sinfônica do século XIX, como a celesta, que caracteriza principalmente a Dança da Fada Açucarada.
A performance de estreia foi regida por Riccardo Drigo e contou com as atuações de Antonietta Dell-Era, como a Fada Açucarada, e a menina Stanislava Belinskaya, como Clara. Todos os papéis infantis foram interpretados por crianças, estudantes da Escola Imperial de Balé. As reações à coreografia foram ambivalentes, dentre outras razões, pelo fato da protagonista ter que esperar até o fim do segundo ato para dançar seu grande pas de deux.
Em 1919, o coreógrafo Alexander Gorsky eliminou a Fada Açucarada e seu Cavalheiro, deixando as suas danças para Clara e o Quebra-Nozes, interpretados por bailarinos adultos pela primeira vez. Tal substituição se tornou habitual em diversas produções subseqüentes, especialmente a partir da versão coreográfica de Vasili Vainonen, de 1934. Neste mesmo ano, aconteceu em Londres a primeira performance completa do balé fora da Rússia.
Outras versões de destaque incluem as de George Balanchine para o New York City Ballet (1954), de Rudolf Nureyev para o Royal Ballet e a presente, concebida por Yuri Grigorovich para o Bolshoi Ballet, sem contar as várias releituras realizadas por Mark Morris, Matthew Bourne e Maurice Bejart.
A partir de segunda metade do século XX, O Quebra-Nozes tornou-se um símbolo das comemorações natalinas, encenado e apreciado em todo o mundo ocidental.
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