dezembro 09, 2011

COLUNA RODOLFO VALVERDE: FAUSTO - DE GOETHE A GOUNOD

O compositor francês Charles Gounod (1818-1893) é um dos nomes mais emblemáticos na definição de um estilo operístico francês romântico. Estreada em Paris em 19 de março de 1859, Faust é a sua quarta obra para o teatro lírico (de um total de treze) e uma das mais apreciadas, ao lado de Roméo et Juliette (de 1867).

O libretto de Jules Barbier e Michel Carré, colaboradores constantes do compositor, é baseado na peça Faust et Marguerite, do mesmo Carré, inspirada livremente na Parte 1 do Fausto de Goethe, obra seminal do Romantismo.

A estreia de Faust ocorreu no Thêatre Lyrique com diálogos falados no lugar dos recitativos, compostos somente em 1860. Após uma jornada por teatros alemães, italianos e ingleses, a ópera de Gounod teve a sua primeira apresentação no Opéra de Paris em 1869, após revisões e a inserção do ballet no Ato V (Noite de Walpurgis), tornando-se a obra mais encenada da história daquele teatro.

Para as performances em Londres, Gounod compôs uma das mais célebres árias da partitura, Avant de quitter ces lieux, para a personagem de Valentin, irmão de Marguerite, que originalmente não tinha árias.

Apesar de seguir várias das convenções dramáticas do estilo Grand Opéra, a música de Faust possui características marcantes de seu compositor, como o lirismo acentuado, o rigor formal e a orquestração expressiva, caracterizando as diversas cenas através de texturas e coloridos tímbricos. A aparição de Marguerite na segunda cena do ato I, a cavatina de Faust no ato III (Salut, demeure chaste et pure), a serenata cantada por Méfistophélès ou a cena do baile, no Ato II, estruturada como um rondo, são alguns dos melhores exemplos.

Personagem mais desenvolvida da ópera, Marguerite é vividamente caracterizada através da música, do despertar de sua sensualidade, projetada nas interrupções de sua balada do Rei de Thulé, à estatura heróica que adquire na impactante cena da igreja (no ato IV) e no trio final. Momentos de maior naturalismo, inusitados na ópera francesa de então, como o arioso inicial de Fausto, antecipam os procedimentos composicionais de autores posteriores, como Massenet.

Para o Metropolitan Opera House, o Fausto de Gounod tem um significado muito especial, pois foi a ópera que marcou a sua inauguração em 22 de outubro de 1883 e, nos anos que se seguiram, abriu todas as temporadas do teatro de New York. Nesta temporada, o MET recebe uma nova produção do premiado diretor Des McAnuff, atualizando a narrativa para a primeira metade do século XX, demonstrando que, apesar das críticas de sentimentalismo, a ópera de Gounod ilustra diversas das facetas transcendentais do texto original de Goethe.

Nos vídeos a seguir, Des McAnuff comenta a sua visão do Fausto de Gounod:

Jonas Kaufmann e René Pape interpretam o duo, do Ato I, "A moi, les plaisirs":

E, em performance intensa, Jonas Kaufmann se une a Marina Poplavskaya:

Por fim, excerto da célebre ária das jóias na interpretação de Marina Poplavskaya:

Comentários e perguntas, escreva para rodolfo.valverde@mobz.com.br

Nenhum comentário: