dezembro 01, 2011

COLUNA RODOLFO VALVERDE: HÄNDEL e RODELINDA

Um dos gigantes da arte musical, o alemão Georg Friedrich Händel (1685-1759) compôs mais de 40 óperas entre os anos de 1705 e 1741, a maioria estreada em Londres, cidade que, ao ser adotada pelo compositor, assistiu ao apogeu da opera seria, o principal gênero dramático do barroco italiano.

Com libretto em italiano escrito por Nicola Francesco Haym (1678-1729), baseado, por sua vez, em um libreto anterior de Antonio Salvi inspirado na peça Pertharite, roi des Lombards, do dramaturgo francês Pierre Corneille, Rodelina, regina de’ Longobardi (HWV 19) é uma das mais bem-acabadas criações de Handel.

Seguindo a estrutura tradicional e as convenções da opera seria barroca, a força dramática de Rodelinda reside em suas longas árias da capo, que exploram, cada uma, os mais diversos afetos e motivações, e permitem a Handel delinear miraculosamente, através de sua música, toda a complexidade psicológica de suas personagens.

Dentre todas, destaca-se a rainha dos lombardos que, dividida entre seus deveres como rainha e suas emoções como esposa, é uma personagem profundamente desenvolvida em suas oito árias e um dueto. Do lamento de Ombre Piante, com solo de violino, no Ato I, ao júbilo de Mio caro bene, no terceiro e último ato, passando pelo sublime dueto Io t´abraccio no fim do segundo, toda a diversidade dos estados de espírito de Rodelinda, assim como das demais personagens, é captada pela música inventiva de Handel.

Sétima ópera do compositor para a Royal Academy of Music, a estreia de Rodelinda se deu em Londres, no King´s Theatre, em 13 de fevereiro de 1725, recebendo, em sua temporada inicial, 14 récitas. Era um período em que Händel se encontrava no ápice de seu sucesso e aceitação, tanto pela burguesia quanto pela aristocracia inglesas, o que lhe permitia a contratação dos melhores intérpretes italianos, em especial os cantores mais incensados de sua época, os célebres castrati.

Em Rodelinda, a produção de estreia reuniu estrelas absolutas, como a prima-donna Francesca Cuzoni, no papel-título, e o castrato Senesino como o rei usurpado Bertarido. A presença do tenor Borosini, que, como os demais, havia cantado em Tamerlano, no início da mesma temporada, permitiu a Händel criar uma nova grande personagem, o contraditório e atormentado vilão Grimoaldo, para seu registro vocal, pouco explorado na opera seria barroca.

Rodelinda foi a primeira ópera de Handel a ser executada no século XX, o que aconteceu em junho de 1920, em Gottingen, na Alemanha, em uma versão bem distante da original, mas que abriu as portas para um verdadeiro renascimento de sua vasta obra dramática. Rodelinda conta hoje com gravações de excepcional qualidade artística, como a versão (em áudio) dirigida por Alan Curtis com Simone Kermes como protagonista e, em DVD, a encenação do Festival de Glyndebourne, com Anna Caterina Antonacci e Andreas Scholl regidos por William Christie.

A atual produção do MET, concebida por Stephen Wadsworth e estreada em dezembro de 2004, é a quarta ópera de Handel a subir ao palco do teatro nova-iorquino. Inspirada em figuras históricas da história lombarda do século VII, a trama de Rodelinda é transferida, na atual montagem, para o século XVIII, preservando a essência universal do drama.

A seguir, alguns vídeos da produção do MET, protagonizada por uma constelação de intérpretes como Renée Fleming, Andreas Scholl e Stephanie Blythe, regidos por Harry Bicket:

Comentários ou dúvidas, escreva para rodolfo.valverde@mobz.com.br

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