novembro 03, 2011

COLUNA RODOLFO VALVERDE: WAGNER e SIEGFRIED

Terceira das quatro óperas que formam O Anel do Nibelungo (Der Ring des Nibelungen), Siegfried estreou em 16 de agosto de 1876 em Bayreuth, Alemanha, no teatro construído pelo compositor Richard Wagner (1813-1883) para a encenação de sua obra. A estreia de Siegfried fez parte de primeira execução mundial, como ciclo completo, da épica tetralogia wagneriana. As demais óperas são, em sequência, O Ouro do Reno (Das Rheingold), A Valquíria (Die Walküre) e, após Siegfried, a conclusão do festival, Götterdämmerung (O Crepúsculo dos Deuses).

O libretto, assim como de todas as outras óperas de Wagner, é de autoria do próprio compositor, que se inspirou nas sagas mitológicas nórdicas e germânicas. O processo de escrita e composição do Anel durou vinte e seis anos (1848-1874), período em que Wagner também trabalhou em outras de suas obras capitais, como Tristão e Isolda e Os Mestres Cantores de Nuremberg. O texto do Anel, assim como as diversas fontes que o inspiraram, é rico em significados e passível de múltiplas interpretações, de sociais e políticas a psicológicas, mas é fundamentalmente ancorado na dualidade entre o amor e o poder em um curso de maldição, culpa e redenção.

Assim como as demais óperas do ciclo, Siegfried se desenvolve dentro da concepção de Richard Wagner de “obra de arte total”, em que música, poesia e artes visuais se combinam, forjando um drama musical contínuo e integrado, sem interrupções ou preponderância de uma expressão artística sobre a outra.

A partitura wagneriana é ancorada em temas recorrentes (motivos condutores) - o leitmotiv - formados por elementos musicais associados a personagens, objetos e sentimentos. Tais temas pontuam a ação e formam a essência da partitura orquestral, que se torna protagonista no desenvolvimento do drama. Combinados em uma rica teia musical, os motivos fluem continuamente na orquestra, iluminando e comentando os acontecimentos em cena, que são delineados, por sua vez, pelas vozes.

A orquestração da tetralogia é de imensa diversidade, sublinhando uma ampla gama de emoções e eventos. A riqueza de timbres da partitura inclui novos instrumentos, como a trompa wagneriana.

A composição de Siegfried ocupou Wagner intermitentemente por 15 anos, estando a partitura completa em 1871. Concebido para um verdadeiro heldentenor, o papel do protagonista é um dos mais difíceis, exigentes e extenuantes da história, dominando a ópera em quase a sua totalidade. Dentre os grandes intérpretes de Siegfried, destacam-se Lauritz Melchior, Max Lorenz, Jess Thomas, Wolfgang Windgassen, René Kollo e Siegfried Jerusalem.

A concepção dramático-musical de Wagner, com sua crescente liberdade harmônica e formal, é um marco na história da arte ocidental, abrindo novos horizontes expressivos e antecipando as revoluções, tanto musicais quanto sociais, que aconteceriam no século XX. Como ele pretendia, a “obra de arte do futuro”.

No próximo post, comento a performance deste sábado. Antecipando a transmissão, assistamos ao trailer com algumas das cenas da produção de Robert Lepage para Siegfried:



A seguir, Jay Hunter Morris, como Siegfried, interpreta a Canção da Forja, no Ato I da ópera
:



Para quem não viu, ou quer assistir novamente, algumas cenas marcantes de Das Rheingold e Die Walküre, transmitidas na temporada passada:



Comentários e perguntas, escreva para
rodolfo.valverde@mobz.com.br

Nenhum comentário: