outubro 27, 2011

COLUNA RODOLFO VALVERDE: O DON GIOVANNI DE MOZART


Il dissoluto punito, ossia il Don Giovanni, uma das óperas mais encenadas e apreciadas da história, é a segunda de três parcerias do austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), luminar do período clássico, com o genial libretista italiano Lorenzo da Ponte (1749-1838). As outras duas são, respectivamente, Le Nozze di Figaro e Così fan tutte.

Embora sediado em Viena, Mozart estreou sua obra-prima, uma partitura de extraordinários colorido e diversidade, em Praga, cidade que sempre o acolheu com entusiasmo, em 29 de outubro de 1797. Ao mesclar elementos cômicos, sérios e até sobrenaturais, Don Giovanni se afasta do gênero opera buffa, como muitas vezes é considerado, configurando-se como um dramma giocoso, em uma perfeita justaposição, de envergadura quase shakespeariana, de comédia e tragédia.

Da Ponte inspirou-se na obra de Giovanni Bertati (musicada por Giuseppe Gazzaniga - 1743-1818), que, por sua vez, usou inúmeras fontes - dada a onipresença da personagem principal, o libertino Don Juan - que remontam ao texto de Tirso de Molina, de 1630, El Burlador de Sevilla. Em todas elas, assim como na ópera de Mozart, duas circunstâncias dramáticas permanecem essenciais: a morte do comendador, pai de Donna Anna, e sua vingança como o convidado de pedra (precedida por um chamado ao arrependimento, prontamente negado pelo sedutor)

Mozart estabelece um inusitado arco dramático até então ao antecipar, no andante da abertura, o material musical que caracteriza a cena crucial da ópera, a confrontação final de Don Giovanni pela estátua do comendador, um dos momentos mais intensos e eletrizantes da história da ópera.

Dentre as outras numerosas cenas de grande inventividade musical, destaca-se o baile, que encerra o Ato I, na qual o compositor utiliza ensembles instrumentais diferentes no palco, cada um tocando uma dança distinta, com compassos distintos, ao mesmo tempo.

Em maio de 1788, Don Giovanni estreou em Viena com alterações e inclusões que, pelo valor dramático e musical, permaneceram nas apresentações subsequentes, como as árias de Don Ottavio (Dalla sua pace) e Donna Elvira (Mi tradì quell’alma ingrata, composta para Caterina Cavalieri e precedida pelo rico recitativo accompagnato In quali eccessi...). Outra novidade, nem sempre representada, foi o dueto de Leporello e Zerlina no Ato II (Per queste tue manine), enquanto que o sexteto final foi omitido na partitura vienense (e hoje, invariavelmente presente).

Desta “obra de arte de perfeição ininterrupta”, nas palavras do compositor Charles Gounod, citações musicais permeiam obras instrumentais ou dramáticas de compositores posteriores, como Beethoven, Offenbach, Rossini, Chopin, Liszt e Busoni. Inúmeros registros, tanto em áudio quanto em vídeo, de excelente qualidade artística, por intérpretes de exceção, atestam a perenidade e a atualidade do Don Giovanni mozartiano.

Na foto acima, o barítono polonês Mariusz Kwiecien, um dos mais brilhantes intérpretes do Don Giovanni, encabeça um elenco estelar nesta nova produção de Michael Grandage para o MET: Barbara Frittoli, Marina Rebeka, Mojca Erdmann, Ramón Vargas, Luca Pisaroni, Joshua Bloom e Stefan Kocán. Rege Fabio Luisi, que assumiu interinamente o cargo de diretor musical do teatro, substituindo um enfermo James Levine.

Nos vídeos abaixo, ouça os comentários do diretor Michael Grandage e, a seguir, Mariusz Kwiecien, Barbara Frittoli e Luca Pisaroni conversam com Renée Fleming (com direito a cenas ao vivo!):




Dúvidas ou comentários, escreva para rodolfo.valverde@mobz.com.br

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